Personagem Incrível: Adélia Rodrigues

Personagem Incrível

Personagem Incrível: Adélia Rodrigues

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No Mês da Mulher, não poderíamos deixar de trazer o perfil de uma mulher forte, empoderada e absolutamente inspiradora por aqui.

A nossa Personagem Incrível de hoje é, por isso, pra lá de maravilhosa!

Feminista, nordestina, mãe do Valentin, candomblecista, psicóloga e cozinheira de mão cheia, Adélia Rodrigues (36) é um show de superação e sucesso.

Apesar de suas vitórias, ela ainda tem vários desafios diários, mas sua força se destaca sobre absolutamente tudo e nos faz lembrar que não existe nada que a potência feminina não consiga alcançar.

A história de Adélia começa no Maranhão, onde nasceu. Chegou em São Paulo em busca de uma vida melhor com sua família, mas o começo não foi nada fácil.

“Vivi nas quebradas da Zona Oeste de São Paulo até a vida adulta. A cozinha era nossa ligação com o Nordeste e os momentos mais alegres que tínhamos. Tudo o resto era difícil demais. Quando fui estudar psicologia, prometi que ela serviria de maneira social. E assim foi e é.”

Antes de virar a suuuper empreendedora que é hoje, Adélia tinha o que poderia se considerar um emprego seguro.

“Eu era coordenadora do núcleo de juventude e trabalho de uma fundação muito importante na Zona Sul por 9 anos. Quando estudei educação libertária comecei a pensar na dinâmica da gente chegar até às pessoas, de mapear, conhecer, respeitar culturas e somar na formação profissional, a partir da história daquele local. Já sabia que a comida era uma ferramenta poderosa, pois os cursos que coordenava eram os mais disputados.”

Nessa altura, Adélia sentiu, então, o chamado para empreender e fazer uma transição de carreira, que exigia arriscar e confiar em si mesma.

“Interessante quando falam de “emprego seguro”, pois eu acho que a única segurança possível, naquele momento, para mim, era dar o próximo passo, mesmo que tivesse que construir o caminho pra eu passar”, explica.

E ainda bem que ela abriu caminho, porque hoje Adélia é um prato cheio de conquistas, que deixam qualquer um de boca aberta:

Co Fundadora e gestora da Gastronomia Periférica (GP) – um negócio social que utiliza a gastronomia como ferramenta de transformação, através da formação profissional de cozinheiros, com um olhar consciente sobre o combate ao desperdício -; membro do board UNESCO-SOST Transcriativa Brasil; Professora convidada do curso de Cultura Alimentar da Escola Itaú Cultural; Consultora com ênfase em questões de gênero; Co Criadora do app Gastronomia Periférica, do serviço de catering Rango e do Restaurante-escola Da Quebrada; ex-curadora do Festival Dois Lados da Ponte e Chefs da Quebrada (SESC 2021 a 23), embaixadora da Inciclo (a primeira marca de coletores menstruais do Brasil), Adélia ainda arruma tempo para apresentar o programa Curando com Comida, no YouTube da GP!

Ufa! Você conseguiu respirar lendo este CV? A gente confessa que teve certa dificuldade (haha).

Mas de todos os papéis que assume profissionalmente, a Gastronomia Periférica é, talvez, o lugar de onde tudo se ramifica.

“Nosso principal campo de atuação é na formação profissional. Hoje estamos em 21 estados brasileiros com cursos EAD e híbridos gratuitos”, conta.

A Gastronomia Periférica foi um projeto criado com um amigo de Adélia. Juntos, pensaram numa escola de gastronomia social que olhasse principalmente para o desenvolvimento de mulheres periféricas, aquelas que estão sempre mais vulneráveis na pirâmide social.

“Cinco anos depois, vejo como ser uma empreendedora social pôde abrir caminho para que muitas das nossas alunas também acreditem que podem fazer igual”, comenta.

Da Gastronomia Periférica, surgiu ainda a ideia de criar um restaurante-escola chamado “Da Quebrada”, que oferece refeições 100% à base de plantas. Ele serve como projeto de educação para as alunas da GP (que podem colocar em prática os conhecimentos adquiridos no curso), mas também ensina restaurantes e clientes, que podem assistir “de camarote” à arte do não desperdício.

“No ‘Da Quebrada’, nós reafirmamos nossa principal bandeira – aproveitamento total de alimentos!”

Através dessa missão bem definida, o “Da Quebrada” assume ainda um papel educativo e de serviço público, ao ensinar a população sobre questões socioambientais centrais da atualidade.

“O nosso restaurante educa o público a entender que as pessoas da periferia não só podem ocupar o chão da cozinha, como também protagonizar na cozinha, estar na linha de frente, porque têm capacidade para isso. Além disso, o cliente aprende que aquilo que na casa dele é desperdiçado é, na verdade, matéria-prima de valor e vai parar no prato dele. Ademais, mostramos a sustentabilidade na prática, já que o que sobra do prato é compostado e volta para os nossos fornecedores/produtores”, explica Adélia.

Lendo sobre a trajetória e o trabalho atual de Adélia, somos levados a acreditar que ela é uma mulher que venceu num mercado dominado por homens e está em pé de igualdade com seus pares masculinos. Porém, apesar de todo esse sucesso, infelizmente a realidade ainda é bem diferente.

“Ser mulher nesse segmento é cansativo. Quantas mulheres você vê à frente de negócios?  Quantas mulheres estão sendo ouvidas na discussão de processos de gastronomia? Pouquíssimas!”, desabafa.

“O maior desafio é sem dúvida a visibilidade. Muitas vezes as mulheres não conseguem contar seus feitos, suas vitórias, pois estão em duplas ou triplas jornadas. E se a gente não espalhar nossas ideias e contar a história a partir de nós mesmas, como outras vão se inspirar e ocupar lugares como os nossos?

Minha maior força é a feminina. Quando olho no olho das minhas alunas e escuto que elas se sentem alguém, porque conseguiram descobrir o valor que elas têm… quando a confiança delas está tão grande que você sente no sabor de um prato, eu sinto que venci uma das batalhas!”, acrescenta.

Se você é mulher, se inspirou com as palavras de Adélia e tem o sonho de empreender, ela tem um conselho final pra te dar:

“Vai com medo mesmo! A gente sempre vai sentir medo quando a gente se movimenta. Estude sobre o que você quer fazer (ninguém consegue roubar nosso conhecimento), se rodeie de pessoas que incentivam você – tenha boas amigas. Lembre-se sempre de onde você veio e o tanto que caminhou, se admirar é importante no processo.”

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